Caro leitor, diretamente ao ponto? Sim. Então você pode finalizar por aqui ou me acompanhar em algumas ponderações de relevância para esse projeto.
Você já tem em sua instituição um S-RES (Sistema de Registro Eletrônico em Saúde) ou um PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente)? Se a resposta for afirmativa, ótimo. Caso contrário, considere a implantação imediatamente. Fazer a transição para o hospital sem papel vai começar com o PEP!
Mas a jornada se inicia por um bom planejamento e um projeto sem pressa. Será necessário terminar o objetivo: prontuário sem papel ou o hospital sem papel. A diferença está nos setores que serão envolvidos nesse processo, e podemos falar nisso mais tarde.
Nesse momento, quero te apresentar algumas coisas teóricas sobre o projeto do prontuário sem papel.
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Classificações do nível de maturidade
No Brasil não temos uma entidade que diga quais são os critérios do hospital sem papel, então vamos nos basear no EMRAM (Electronic Medical Record Adoption Model) da HIMSS (Healthcare Information and Management Systems Society). Esse modelo classifica os serviços com o nível de maturidade sendo:
- Registro médico eletrônico completo, warehousing.
6. Documentação médica (templates estruturados) com total capacidade de Sistema de apoio à decisão clínica para análise de aderência e variância.
5. Loop de administração de medicamentos fechado (da prescrição à administração e checagem).
4. Prescrição Eletrônica, Sistema de apoio à decisão clínica com protocolos.
3. Documentação clínica e de enfermagem, Sistema de apoio à decisão clínica (verificação de erros), PACS.
2. Repositório de dados clínicos, Vocabulário Médico Controlado, Sistema de Apoio à Decisão, podendo ter documentação de imagens e capacidade de troca de informação.
1. Sistemas auxiliares – laboratório, radiologia e farmácia – estão todos instalados.
0. Os três sistemas auxiliares não estão instalados.
Então nesse ponto nosso objetivo é atingir pelo menos nível 6, chamar o time de auditoria da HIMSS e certificar o serviço.
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Seu PEP deve ser Certificado Nível de Segurança 2
Apesar da HIMSS não avaliar a questão da certificação (por serem regras americanas), no Brasil o Conselho Federal de Medicina publicou as Resoluções 1.821/2017 e 2.218/2018 que orientam que para a eliminação do papel, seu PEP deve atender aos requisitos de Nível de Segurança 2 do manual versão 4.3 produzido pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS).
Existem outros conselhos que também exigem a aderência ao NGS2 da SBIS. Não vamos querer arrumar confusão com os conselhos profissionais né?
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Certificado digital para todo mundo!
Muito controverso, mas importante, é a aquisição do certificado digital (para assinatura eletrônica) para TODOS os profissionais de saúde do serviço. Quando falo em todos, é todos mesmo: do técnico de enfermagem ao diretor clínico. Eu penso que não precisaria falar, mas vou registrar para deixar claro: a assinatura eletrônica precisa ser de todos os profissionais, não é somente os médicos, não é somente o diretor clínico, não é somente o gerente de enfermagem, todos precisam ter seu certificado A3, e seus documentos precisam ter o “Carimbo de tempo”.
Vou querer adentrar mais um pouco sobre esse assunto em outros artigos.
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A preparação da mudança cultural
Mudar do papel para o eletrônico será uma tarefa muito maior que simplesmente comprar os certificados e um sistema com selo SBIS. Na minha experiência de 12 anos, entendi que para muitos profissionais tirar o papel, é como pedir para ele parar de respirar. Muitas pessoas não conseguem associar que o processo no eletrônico é exatamente igual ao papel, porém com o clique do mouse. Então o trabalho cultural será importante nessa fase do seu projeto.
A saúde deveria se espelhar e até ficar íntima da Aviação Civil. Eu sou um fã dos aviões, e adoro estudar as regras de segurança de voo, pois me dão ideias de como poderíamos fazer igual na saúde.
Desculpem por esse parêntesis gigante, mas eu quero dizer que a aviação civil se preocupa na preparação dos agentes, é quase uma doutrinação de como proceder com os instrumentos. Por que na saúde é tão difícil treinar as equipes? Digo, fazer o médico treinar no sistema e seguir os procedimentos corretos até ele estar doutrinado e não ver mais diferença entre papel e eletrônico.
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O retorno financeiro
Por fim, estar preparado para investir é um ponto focal do projeto. Sabemos que o brasileiro é imediatista, você não irá observar o retorno de curto prazo, insista mais um pouco. A implantação do PEP em si, poderá aumentar a quantidade de impressões pelo serviço. Depois você terá que investir nos certificados e assim eliminar o papel na assistência direta.
Então, irei repetir a resposta do começo do artigo, sim, é possível hospital sem papel. Comece pesquisando sobre os pontos descritos nesse artigo e grave as palavras, planejamento, engajamento e investimento para entrar nessa jornada.
Pílulas:
Saúde e informática combinam sim. Prepara-se para era da digitalização da saúde.
Se nem boletos você imprime, por que vai imprimir o prontuário do seu paciente?
Médico, se você confia no seu internet banking então pode confiar no seu PEP.